segunda-feira, 2 de maio de 2011

MEDITAÇÃO DO ANJO ANTE A MORTE DAS EFÊMERAS




Amanhã direi a vosmecê,
minha dama eterna,
porque nascem e morrem
as efêmeras, antes mesmo
que o sol se ponha
n’algum horizonte doirado.

suaves, antigas, desde o primeiro dia
arrebentam das águas tranqüilas;
voejam com as borboletas,
tecem figuras meigas e musicais com as falenas,
beijam o sol e jamais vêem a lua.

sem derramar uma lágrima sequer
retornam ao dossel das águas
e morrem tão suavemente como vieram.
então eu digo para vosmecê, minha dama eterna,
que na verdade são fadinhas que,
medrosas, queriam apenas bailar uma valsa:

dessas que os anjos contaram
que somente os amantes dançam.

(sspóvoa-um dia antes
de setembro)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA DO ANJO NALGUM LUGAR OU TEMPO





TEMPO, SEM TEMPO
METÁFISICO OU MATERIAL E MUITO MENOS
CONSIDERADO COMO DE ALGUMA VALIA.
AMADAS, JORNADEAR FOI LONGO,
POREM PARA LUGAR NENHUM,
A NÃO SER A PERSPECTIVA DAS ESTRELAS
QUE NÃO ALCANCEI.
FUI AUSENTE, EM CORPO E ALMA
E PEÇO PERDÃO À VOSMECES
QUE ME MANTIVERAM VIVO
NA MEMÓRIA DO ONTEM
NA PRESENÇA DO HOJE
E NA ESPERA DO AMANHÃ
FOI UM MOMENTO VAZIO,
MAS SABIA QUE ESTAVA VIVO
PORQUE, AMADAS E AMADOS,
EU SABIA QUE VOSMECES EXISTEM!
N’ALGUM PONTO OU LUGAR
DESTE UNIVERSO DOS ANJOS.
ONDE EU ESTARIA, FOSSE COMO FOSSE
AO LADO DE VOSMECES QUE EU AMO.
ESTAMOS JUNTOS, AGORA.
POETEMOS! É NOSSA ESSENCIA DE VIVER!

(sspovoa-hoje.)


Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA PARA OS OITO ANJOS QUE JÁ SE FORAM



Para que romper a aurora
Se, no meu dia chegado
rosto algum eu verei
de dentro do meu mausoléu?

Para que saber que o dia
amanhece
Se minhas noites são calmas
e amortecem minhas tragédias,
na voz de minhas últimas boemias
e das mulheres desregradas
à procura de vida
nos cabarés meio inóspitos?

Para que romper a aurora
Acompanhando esse sol antigo
se na verdade prazer nenhum me propõe,
estes só existem dentro de mim mesmo.
Prefiro, pois, acompanhar a noite
aos sons dos copos
e das raparigas sem destino
que nada me prometem
e tudo me tira?

Prefiro acompanhar a noite minha dama,
apenas com a leve percepção auditiva,
fugindo nas vozes dos galos prematuros
e no uivar dos cães famintos.

Para que esperar a aurora, minha donzela
Se a vida quase não palpita em meu corpo,
se o dia, com certeza absoluta, virá sobre mim,
e maltratara os meus olhos;
e apagará moça, minha alegria?

(sspovoa)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTARES DE UM ANJO COM SAUDADES DO NADA



Prefiro que seja uma dália,
rubra como os seus cabelos
porém suave como um sorriso de criança.

matizarei de amarelo o caminho
por onde passa
com seus passos de nuvem,
serão das acácias as flores
solenes, efêmeras qual sopro
de brisa suave e brincalhona

De onde vem,
triste Açucena
com mãos traçando no nada
doces anelos
corpo cinzelando altares;
desta eternidade inútil como uma brisa
que caminha para lugar nenhum.

Dirá, então: sou sonho.

(sspóvoa-arquivo antigo)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTO MUI ANTIGO D'M ANJO CAVALEIRO




Senhora Dona donzela mia
eis que cavalgado tenho na
garupa do mundo
sem rumo.
E vós, donzela frágil
crescia como as flores
e vosso cavaleiro tardava
sem ver vossa mercê.
Desabrochou como a flor
desabrocha e encanta
a vida de quem a vê
Perdão!
pelo carinho e cuidados
que não dei à Vós
nem enxuguei vossas lágrimas
tristes
Perdão, donzela –flor
porque tardei nos vossos dias
quando ainda era um botão
Na espera da carícia

Agora sois flor-mulher
pétalas abertas que murcharão
sem o afeto que era vosso
Tão distante!
Perdão Senhora Dona donzela mia
Por ter chegado tão tarde!

(sspovoa)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA ALEGRE DO ANJO PARA A POETISA KÁTIA PÉROLA




Contam as legendas antigas que alguma
Fadinha morre n’algum ponto do universo
Se você diz que elas não existem!
As flores murcham, se você não acredita que elas
Sejam borboletas que ainda não nasceram.

Portanto feche os olhos e pense com o coração
Nas fadinhas, nas flores e nas borboletas.

Hoje a poesia deve ser apenas carinho
para a poetisa Kátia Pérola, como se ela fosse
Uma fadinha, uma flor ou uma borboleta,
Apesar de seja uma falena fazendo
Versos nos espaços da vida.

Dia desses ela será uma crisálida
Para retornar transformada na mais
querida poetisa do maravilhoso mundo
dos cantadores onde encanta com
Suas filigranas , como as borboletas
As fadinhas e as falenas de todos
Os jardins dos sonhos e das alegrias!

(sspóvoa-arquivo antigo)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA DO ANJO PARA UMA SIMIONE





BRINCAVAM NO JARDIM IMENSO
ASAS TRANSLÚDAS BATIAM
EM RITIMO TRANQUILO ENTRE
MARGARIDAS E GIRASSÓIS,
SEM POUSAREM EM NENHUMA DELAS.

PENSEI FOSSEM FALENAS OU LIBÉLULAS
SAUDANDO O AMANHECER COM O SOL DOURADO.
REFLETINDO-SE NAS FLORES COLORINDO O MUNDO.

DEPOIS COM O FARFALHAR DAS FOLHAS
TANGIDAS PELA BRISA DO AMANHECER
VI OS VOEJANTES, E DESCOBRI QUE NÃO
ERAM FALENAS OU BORBOLETAS MAS DOIS
ANJOS DISTRIBUINDO CARINHO E ESPERANÇAS
PARA OS SOFRIDOS, ENTRE AQUELAS FLORES

QUE NÃO ERAM MAIS MARGARIDAS OU GIRASSÓIS,
MAS UM VASTO HORIZONTE DE TULIPAS VERMELHAS
DONDE VOSMECE REINAVA COMO O ANJO QUE É.

(sspóvoa-arquivo antigo)

Sebastião Spínula Póvoa