MEDITAÇÃO DO ANJO QUE SONHA SER POETA

I

Tiradentes morreu hoje;
Por isso tem um cadáver
Pendurado no céu do Brasil

II

ESTOU DO OUTRO LADO DA CALÇADA
OLHANDO UM MURO COMPRIDO
Q’NEM CORDÃO DESFIADO DO NOVELO
PR’A LER AS PALAVRAS DE DEUS:

“APOBREZAVOMITAFEIURAPELABOCA”!

III

EM TODAS AS LÍNGUAS E DIALETOS.

(sspóvoa-IN REINO
POETICO DE PASÁRGADA)

Sebastião Spínula Póvoa

MOTE DO ANJO A UM POEMA DA DRA.RAI NO “LABIRINTUS”

O CORAÇÃO DESABITADO DE ALEGRIA
CONTRAI-SE NO PEITO.

OS GESTOS DE VITÓRIAS PRESSENTIDAS
PODERÃO CAIR COMO AVES BALEADAS.

HÁ UM SILENCIO EM MIM COMO OS DOS CAMPOS
ANTES QUE SE INICIE A BATALHA.

EM VERDADE, ESTOU À PROCURA
DO AMOR OU DO ÓDIO
SEM PREFERÊNCIA PARA O QUE VIER.


(sspóvoa-arquivos antigos)

Sebastião Spínula Póvoa

CANÇÃO DO ANJO PARA UMA PRINCESA

Vem,
companheira de todos os instantes.
Galopemos a garupa do vento
e busquemos lugar para nosso mundo;
que construiremos num momento de sonho.

Será perfeito e só nós teremos morada.

Os sonhos o cobrirão de flores azuis
o sorriso será a canção das brisas
para o bailado das borboletas e falenas.

do afago suave das mãos de vosmece
nascerão todas as coisas.

do brilho dos olhos nascerá o sol
e dos cabelos nascerá à pálida lua
no nosso mundo perfeito
impenetrável e só nosso.

De lá, buscaremos a eternidade
onde só os pássaros buscam repouso.

Então lembraremos de ontem
buscando a perspectiva do amanhã.


(sspovoa-arquivo.Cantigas
Para Uma Princesa)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA DO ANJO PARA AS BORBOLETAS

Vou plantar para vosmece Princesa
muitas flores para quando passar
nos caminhos do céu.

Será numa estrada, mais longa
que a minha espera
e onde ouvirei o vosso sorriso
ainda depois da eternidade.

Nas minhas flores,
as cores roubadas
dos vossos olhos.

Esculpirei as formas do corpo de vosmece
que resplandecera com o fulgor das estrelas,
com a suavidade das borboletas;
colorida pelas flores que plantarei.
Será meu sonho real
bonito como o sorriso das manhãs
brincando de nascer.


(sspovoa-arquivo.Cantigas
Para Uma Princesa)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTO DO ANJO PARA AS COMPANHEIRAS DO RETORNO

QUANDO ELAS CHEGARAM
DEPOIS DO PRIMEIRO DIA,
ÉRAM ELEMENTAIS
NA FORMA DE FADINHAS
FALENAS BORBOLETAS E LIBÉLULAS.

CADA QUAL DO SEU JEITO
ESVOAÇANDO NAS FLORES
OU BRINCANDO NO BRILHO DO SOL
EPELHADO NAS ÁGUAS ETERNAS.

FÁTIMA ,NA FORMA DE LIBELULA
VOA,VOANDO DAQUI P’RA LI,
EM MEIO AS TULIPAS VERMELHAS
SORRINDO COM SUAS ASAS TRANSLUCIDAS.

ROSSANA, DELICADA FALENA
BAILA NAS CAMADAS TENUES
DO VENTO ENTRE OS COLOSSOS DE PEDRA
ESCULPIDOS NOS ALTARES DA ETERNIDADE.

DÉBORA CONTINUOU FADINHA
NOS ENCANTADOS MORRETES
ONDE MEDRAM AS HORTENCIAS
AZUIS COMO O CEU DO AMANHECER.

TANIA, BORBOLETA, CARREGA O ARCO IRIS
NA SUAVIDADE DAS ASAS
ESPARGINDO POEIRA DAS ESTRELAS
NO CAMINHO DA LONGÍNQUA ANDROMEDA,
NOSSA CASA, PARA ONDE VOLTAREMOS.

CADA UM COM AS SUAS ASAS.


(sspóvoa-5 de abril)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTARES DO ANJO PARA UMA BORBOLETA

VEM, SENHORA DONZELA.
DÁ-ME UM ABRAÇO
E REPOUSE A CABEÇA DE VOSMECE
NOS MEUS OMBROS.

DEIXA QUE EU SINTA A SUAVIDADE
DE SUA PELE E O RITIMADO
FLUIR DA RESPIRAÇÃO
QUE VEM DO VOSSO CORPO.

DEPOIS VÁ, SENHORA DAMA,
E APERTE A MINHA MÃO
COM FORÇA. EU SENTIREI
O SUAVE TOQUE DA DESPEDIDA
QUANDO VOSSOS DEDOS,
DELICADOS E FINOS
NÃO ESTIVEREM MAIS AQUI.
ENTÃO PENSAREI:
ERA UMA BORBOLETA.
NADA MAIS!


(sspóvoa-5 de abril)

Sebastião Spínula Póvoa

POSTURA DO ANJO ANTIGO ANTE AS LÁGRIMAS DE UMA DONZELA

Hai que saber, Donzela mia
quantos golpes se dará
com o meu terçado ou
durindana,quão tem sido
as lágrimas dos olhos vossos caídas.
Pela minha fé!

Por vós juro,
sobre os Santos Evangelhos,
que não duvidem os impenitentes
que rubro sangue geléia trêmula
há que ser aqui, ali, alhures ou
algures,efeito mesmo terá,
de vingança, tanta, que Deus haja!

Que se enxuguem, pois, olhos vossos,
pela fementida aleivosia que a
angelicais ouvidos, tantas mágoas fizeram.
Que por honra e reparo Vosso, fúria hei
chamado de mil guerreiros mongóis,
para exemplar postura se aplicar em
tão sacripantas valhacoutos.
Em pós o que, de fenestrados serão
destas minhas bandas.
Louvado seja Vossa Mercê
neste ano da graça desde o
sagrado nascimento.


(sspóvoa-cantigas medievais
para uma princesa)


Sebastião Spínula Póvoa

PASCOA COM CHOCOLATE INDAGAÇÃO DO ANJO

Graça a Igreja Romana que de Cristo se apossou
Imitadores baratos dos hebreus nos tornou,
Numa páscoa onde se come doces
Ao invés de ervas amargas como eles.

Mas, que temos nós ocidentais com isso?
Que páscoa é essa
se não temos o que comemorar,
nem de alegre e tão pouco de triste,
porque a páscoa, festa única e exclusiva
do povo judeu,
para que não se esquecessem da fuga do Egito,
lembrança regada a absinto
ervas amargas e pão sem fermento.

Aqui se rouba galinhas,
outros compram bacalhau
ou se empanturram com chocolate
numa páscoa que não é nossa.

Afinal, do que fugimos a não ser
de nossa doce miséria e
da nossa santa inocência
de imitadores sem talento?


(sspóvoa-1° de abril)

Sebastião Spínula Póvoa

QUANDO O ANJO SENTE SAUDADES

NÃO CHORES!

QUANDO VOSMECE E EU
OLHAMOS PARA AS ESTRELAS
É SIMPLESMENTE A VONTADE
DE VOLTAR PARA CASA

E SENTIR SAUDADE
É VONTADE DE ESTAR PERTO.

POR ISSO, AS BORBOLETAS,
LIBÉLULAS E AS FALENAS
VOAM POR AÍ ATOA.

SIMPLESMENTE BRINCAM
DE VOLTAR PARA CASA.

(sspóvoa-1° de abril)

Sebastião Spínula Póvoa

APENAS ANJO

Nós,
( os anjos, sempre voltamos para casa)!

AMIGA, DEIXA A CABEÇA NOS JOELHOS
E GARGALHEMOS A SEPARAÇÃO.
ELA É FRIA E TOLA COMO TODA SEPARAÇÃO
PORQUE SE INFILTRA AOS POUCOS
NUMA CORAJOSA COVARDIA...

NÃO MAIS TEREMOS OS RISOS FORÇADOS
NÃO MAIS TEREMOS NADA...

SÓ MESMO RESTA ELEGANTE AMIGA
DOBRAR A CABEÇA NOS JOELHOS
E GARGALHARMOS ESSA SEPARAÇÃO.

AFINAL, A SAUDADE A VIA TRARÁ
DO SILENCIOSO VIAJEIRO,
A PERPÉTUA RECORDAÇÃO
POIS A MORTE NÃO TERMINA
NUNCA.


(sspóvoa Poemas experimentais)

Sebastião Spínula Póvoa

QUEM DISSE QUE O ANJO NÃO CHORA?

AFINAL, O QUE NOS RESTA
SE PERDEMOS O SORRISO,
NA PRIMEIRA ESQUINA,
NA ULTIMA RUA COMPRIDA
ONDE O VENTO FAZ A CURVA?

O QUE NOS RESTA, AFINAL,
SE TODAS AS CORES
QUE ERAM MULTICORES
NAS ASAS DAS BORBOLETAS
NÃO ESTÃO MAIS LÁ?

EU PERDI O SORRISO
NA ULTIMA CURVA DO VENTO.
PORTANTO, CALUDA!

NÃO INCOMODEM
QUEM TANTO AMOU NA VIDA.


(sspóvoa Poemas 29/03/10)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTARES DO ANJO ANTE AS FLORES MORTAS

Eu quero que amanheça um dia
em frente ao meu mausoléu
todas as mulheres que faziam vida
que me fizeram viver de Léo em Léo.

Eu quero que amanheçam um dia
nas primeiras horas da madrugada
quando houver o horror que o inverno cria
e a terra ainda estiver molhada.

Que apareçam ainda mal dormidas
diretamente dos caberes chegadas
apareçam alegres, não me apareçam compungidas
não gosto de tristezas em pessoas amadas.

E neste cemitério onde tudo, aqui, se acaba
gargalhem e bebam em torno de mim.
Assim, dentro da terra, minha branca ossada
fremirá de prazer à boemia sem fim.


(sspóvoa Poemas experimentais)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA DO ANJO MEDITABUNDO

Nada desaparece no espaço
-tempo é espaço-
o resto em nós existe.

Nem o vidro translúcido
nem a água cristalina
São sensações de ausência.

Nada desaparece no espaço
tudo que nele se encontra
tem a sua razão.

Só o espaço desaparece no espaço,
ele pode ser ocupado,

mas nada ocupa.


(sspóvoa Poemas experimentais)

Sebastião Spínula Póvoa

SOLIDÃO DO ANJO N'UMA HORA QUALQUER

Oh! Não ter mais a voz para cantar
a profusão radiante do meu interior

Oh! Não ter mais voz para cantar
nas levíssimas horas das madrugadas,
nem poder transmitir minhas mensagens
que tornariam, ao certo,
mais leve o palpitar da vida

Só me resta pois o recolhimento
nas regiões mais escondidas,
onde os passarinhos vão morrer.


(sspóvoa Poemas experimentais)

Sebastião Spínula Póvoa

CANÇÃO DO ANJO PARA AS DAMAS ESQUECIDAS

AS PÉTALAS

Como a rosa que murcha-se no galho
e tem suas pétalas esfacelas,
Uma a uma todos os dias,
nas camadas tênues do vento.

Como as chuvas que caem do céu
tem suas águas apagadas no mar;
as damas e donzelas ,ficam alegres
vendo o tempo passar.

Como as frutas silvestres amadurecem
e as campinas se cobrem de flores
pássaros coloridos cantam
e reproduzem a primavera.

Mas isso vai, se chegam os anos.
Um dia seus olhos, grandes e calmos,
perderão o brilho nas órbitas.
Então perguntarás:
-Porque não vieste abrir-me a flor?

(sspóvoa Poemas experimentais)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA DE UM ANJO QUE VOLTOU PARA CASA

Embora o tempo nos separe
sei que pensas em mim
como penso em ti
nos momentos alegres e triviais

Passeai à sombra suave
das árvores do centro do bosque
Buscai o luar nas trêmulas águas
dos lagos apagadíssimo

Recordai da transfiguração que eu possuía
quando meus lábios quentes
sugavam tua boca.
Recordai as carícias de minhas mãos másculas
sobre a fragilidade do teu corpo
trêmula rosa de amor.

Recordando tu me encontrarás
em todas as brisas
e me sentirás no pulsar do teu sangue
sobrevivendo-me então ao abandono
com forças suficientes, para retornar-me
do esquecimento que a morte trará ao corpo meu.

(sspóvoa Poemas experimentais)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA PARA OS ANJOS QUE JÁ SE FORAM

Para que romper a aurora minha donzela
se, no meu dia chegado,
rosto algum eu verei
de dentro do meu mausoléu

Para que saber que o dia
amanhece minha dama
se minhas noites são calmas
e amortecem minhas tragédias,
na voz de minhas últimas boemias
e das mulheres desregradas
à procura de vida
nos cabarés meio inóspitos.

Para que romper a aurora minha donzela
acompanhando esse sol antigo
se na verdade prazer nenhum me propões,
estes só existem dentro de mim mesmo.
Prefiro, pois, acompanhar a noite
aos sons dos copos
e das raparigas sem destino
que nada me prometem
e tudo me tiram.

Prefiro acompanhar a noite minha dama
apenas com a leve percepção auditiva
fugindo nas vozes dos galos prematuros
e no uivar dos cães famintos.

Para que esperar a aurora minha donzela
Se o dia com certeza absoluta, virá sobre mim,
e maltratara os meus olhos;
e apagara minha alegria?

(sspóvoa Poemas experimentais)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA DO ANJO PARA O IRMÃO POETA

Irmão!
Quando a nostalgia
amargurar a tua alma
a saudade esbravejar em teu peito
como impetuosa e bravas ondas;
bem sei que caminharás.

Pelas estradas que seguimos
retornarás às palestras que tivemos,
sem solucionares a impertinente amargura.

Mas creia a vida é lapidada
por mãos que não atinamos,
gestos que não conhecemos.

Mas, no final, estaremos novamente,
no mesmo caminho
emparelhados harmonicamente
-Porque o sofrimento não pode ser evitado
E, simplesmente ,aperfeiçoa o homem.

(sspóvoa
Poemas Experimentais)

Sebastião Spínula Póvoa

PROSA DE UM ANJO NA FUMAÇA DO CACHIMBO

PRIMEIRO CANTO
Sspóvoa


LÁ, NO BARRANCO DO RIO ONDE EU MORAVA, AS ÚNICAS COISAS TRISTES ERAM AS LEMBRANÇAS DE ALGUMAS PASSAGENS NA CIDADE GRANDE, ONDE AS FLORES PERDEM AS PÉTALAS E AS BORBOLETAS PERDEM AS CORES.
LÁ, AS FLORES NÃO MURCHAM. BORBOELETAS, FALENAS, LIBELULAS E MARIPOSAS, ATÉ AS EFEMERAS, BAILAM SEMPRE EM POR SOBRE O ESPELHO DAS ÁGUAS. SÓ AS EFEMERAS CUMPREM O SEU CICLO DE POUCAS HORAS E, NEM POR ISSO, O GRANDE BERÔ-ROCAM DEIXA DE ROLAR COM AS SUAS ÁGUAS SERTÃO A DENTRO.
NA FUMAÇA DO CACHIMBO EVOLAVAM CANTIGAS DE RODA

“ EU VI O SOL, LA NO ALTO CLAREAR,
EU VI MEU BEM DENTRO DO CANAVIAL
TRISTEZA QUE VAI E VEM,
NÃO TRAZ NOVAS DO MEU BEM
SE ELE É VIVO, SE ELE É MORTO
OU NOS BRAÇOS DE ALGUÉM...”


SEGUNDO CANTO
Sspóvoa


E LA IA A CANTILENA DOS CURUMINS DA ESCOLA PROTESTANTE, ENQUANTO O VELHO ARUTANA FALAVA DA GRANDEZA ANTIGA DO POVO DO ARUANÃ. EU PITAVA SEM NINGUÉM PARA FALAR QUE AQUILO FAZIA MAL.
FAZIA NADA!

DIA DESSES TIRARAM EU DE LÁ.
SEM CACHIMBO,
SEM BORBOLETAS
FALENAS E LIBELULAS E, MUITO MENOS,
AS EFEMERAS QUE SO VIVEM NA BEIRA D’ÁGUA.

AÍ PERDI O CONTATO COM OS ANJOS
E NEM VI MAIS OS BOTOS BRINCANDO
DE VADIAGEM NAS TARDES QUENTES
DA BEIRADA DO MEU RIO, MORADA DO CAIPORA
DO NEGRO D’ÁGUA E DO SACI PERERE.

EITA LEMBRANÇA DANADA!


Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA DE UM ANJO PARA MINHAS BORBOLETAS E FALENAS

hoje escrevi esta cantiga
que bem poderia ser um lamento
mas, quando meninos falaram
que os homens não choram.

Porem estavam errados
porque os anjos choram
especialmente quando
as borboletas e as falenas
estão tristes e até as libélulas,
com suas asas translucidas,
quedam - se num ramo e meditam
a ausência das companheiras.

os anjos choram sim quando
ouvem o vento sozinho
trazendo o murmurar das ondas
que estão solitárias pela ausência
de uma ou outra donzela que
não pisa mais nas suas areias,
banhadas pelo mar azul,
com os pezinhos de nuvens.

Choram sim, quando brisa canta
cantigas tristes e saudosas
nos monólitos solenes das chapadas
esculpidos pelas legendas antigas.

então, escrevo agora esta cantiga
que é um lamento pelas borboletas
e falenas que querem ir embora.

(sspóvoa - 20 de março)

Sebastião Spínula Póvoa

CANÇÃO PARA UMA ANDERLAINE NA VISÃO DO ANJO DO ANJO

OUVI NA “RADIA” DO SERTÃO DO TOCANTINS,
COISA BONITA DE SE VER E OUVIR NAS TARDES QUENTES
QUANDO AS GENTES FALAM DE SONHOS E DE RECADOS.

ANDERLAINE OFERECE GLÓRIA GLORIA ALELUIA
PARA A IRMÃ MARIA POMPILHO FERREIRA
CERTAMENTE WWW PONTO COM PONTO BR.

ANDERLAINE DESCEU A RUA GLORIOSAMENTE IMPORTANTE
ARRANJARA UM NOME BONITO E SE ESQUECERA QUE ERA BISCATE.
RITINHA QUE MORAVA NA RUA DE BAIXO ONDE OS BÊBEDOS SÃO REIS.

ANDERLAINE ERA O SEU NOME
SEM ARRÔBA SEM PONTO COM, SEM BÊERRE.
MORREU DE VIRUS DO AED EGIPTIS.

A CIDADE DE SANDOLANDIA INTEIRA
VIU ELA SUBIR PARA O CÉU

SENTADA NA MÃO DE DEUS.

(sspóvoa do arquivo da
nobre dama RDD)

Sebastião Spínula Póvoa

O LIVRO DE UMA FOLHA SÓ

1000TON
diz que não pode, mas já o fez
escrevendo um livro de uma folha só.

Solitária, diz que a baleia está
e na bacia nada sem companhia
mesmo que não seja uma, mas sete
dos setes mares oceânicas bacias são.
O livro que não escreveria escrito está.

Mais triste que a baleia, lobisomem se sente
por ser escorraçado, amaldiçoado, desprezado
mesmo sendo homem, figura triste de gente.
De que cor é a licantropica visagem
preto, azul marrom ou furta-cor, ninguém viu
mais fácil é,pois, falar mal dele que não se defende
a não ser olhar, sorrir, uivar e apaixonar-se pela lua cheia.

Mas o seu livro foi escrito, poema de uma folha só.
perfeito, poético até.
Q'importa À baleia em sua bacia curtindo solidão
se ao poeta escritor nada mais sobra além da paixão?
E, diante do seu próprio silêncio!
O inocente nem percebe:
O porquê de se identificar com certas coisas...

Que coisas, poeta cantador da solidão,
senhor da tristeza, irmão do abandono.

(sspóvoa)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTO NA FRENTE DE UM ESPELHO

...nem anjo, nem archanjo,
muito menos cherubim ou seraphim,
nem sem-nome, encourado, capeta, satanaz
ou belzebut, nem pensar ou sonhar.

tivera o poder de um deles
certamente seria rei da Babilônia
senhor de alguma nação, que não Biafra
e dono da mega-sena acumulada
depois de uma sexta-feira da paixão.

quando muito, um bom Elemental,
qualquer um saído da memória
das canções e legendas antigas.

dentre eles, preferia ser o saci-pererê
ou quem sabe, um duende ou gnomo
pois teria milhões de cogumelos para morar
sem pagar aluguel, luz água,telefone
nem mesmo imposto de renda.

mesmo assim queria uma Jhezabel só para mim
ou amigaria com a pomba-gira dos terreiros da Bahia.
mulherada bonita que faz pena de só se ver em figuras
policromaticas em lojas de feitiços ou nos ilustrados livrinhos de cordeis.

meu verso esta comprido como barbante
desenrolado .Vou cortá-lo com a tesoura
do bom ou do mau senso.

Amém

(sspóvoa)

Sebastião Spínula Póvoa

UM ANJO NOS PORÕES DE 31 DE MARÇO

NO PÁTIO DOS FURIOSOS, JOSÉ CATALÃO,
NÚ COMO NASCEU, DANÇOU SEM PARAR
UM TANGO ARGENTINO. LA CUMPARSITA, TALVEZ.

VALDIVINO, DOS OLHOS CLAROS D`ÁGUA
FALAVA COM MARIA E O MENINO JESUS
CANTAVA CANTIGAS DE NINAR E
BRINCAVA DE CIRANDA COM OS ANJOS,
NA ÚLTIMA NUVEM DO CÉU.

MISTURAVAM-SE ODORES
DE ROSAS E ESCREMENTO HUMANO.
AS MULHERES BAILAVAM, VALSAS DE STRAUS,
NUM RODOPIAR INCESSANTE.

OUTRO BRINCAVA DE GENTE GRANDE
TENTANDO GUARDAR UM RAIO DE SOL
E ACENDER O CIGARRO QUE NUNCA TEVE

NOS OLHOS DE VALDIVINO A ANGÚSTIA
POR NÃO FALAR COM JESUS CRISTO,

ZÉ DO CARMO, O BEATO,
DESCOBRIU O MUNDO
TRIDIMENSIONAL DO IMPOSSÍVEL
ONDE AS LÁGRIMAS SÃO SECAS,
A ESPERANÇA FINDA
NO AMANHÃ QUE PARA ELE NÃO VIRÁ.

O SOLDADO GRITAVA
QUE ERA O CAPITÃO DO FIM.

ENQUANTO NO PÁTIO DOS FURIOSOS
JOSÉ CATALÃO CONTINUO
DANÇANDO SEM PARAR
AO COMPASSO DA FANTASIA.

A PRINCESA VIRÁ
E BAILAREMOS
UMA CANTIGA, ANTIGA.

SÓ QUE ELES NÃO ENTENDEM MAIS A VIDA

(sspóvoa)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA DO ANJO ACERCA DO OPERARIO QUE TINHA NOVE DEDOS

NOBRE ESCRIVINHADOR 1000TON,MAIS SAPIENTE QUE SOBRINHO ADOTIVO.
NO ENSAIO DE VOSSA LAVRA “REAL SITUAÇÃO” INSTALA O OPERÁRIO NO CUME DAS DIVAGAÇÕES/ASPIRAÇÕES. ASSIM TENTO ENTENDER O FILOSOFICO POEMA:

NEM GANANCIA DE OPERÁRIO TINHA,
POIS O QUE TÍNHAMOS, ATÉ ONTEM
ERA UM APETITE SEM ESPERANÇA
AO QUAL NEM DIÓGENAS DE SINOPE COM A SUA LAMPARA,
MUITO MENOS ANACREONTE COM SEU PODER DE ORÁCULO,
DESLINDAVA AO OPERÁRIO MORTAL O PORQUE, ELE,
OPERÁRIO, ERA QUAL PROMETEU
ACORRENTADO NO MONTE CAUCASO
PARA QUE SEU SOFRIDO FÍGADO
SERVISSE DE REPASTO AOS URUBUS DA REPÚBLICA
TALVEZ PORQUE ,ELE OPERÁRIO,
ACREDITAVA NO INSPIRADO EPICURO
ENSINANDO QUE SE DEVE VIVER
E TIRAR PROVEITO O MÁXIMO POSSIVEL
NO MAIS CURTO ESPAÇO DE TEMPO.

VOSSO OPERÁRIO VERBERA :
“QUANTO TU QUERES PARA ME COMER?”
ENTENDIA, TALVEZ, QUE SE O COMESSEM
LITERALMENTE O DEVORASSEM, CESSARIA
O TÃO CRUEL APETITE SEM ESPERANÇA

(sspóvoa

Sebastião Spínula Póvoa

SÓ UM ANJO NADA MAIS

SABE, DRA RAI,
TENHO SAUDADE DO RECANTO DO RIO
NAS NOITES QUENTES DE ESTIO
QUANDO ANHANGÁ SORRI
TENHO SAUDADES DO RECANTO DO RIO,
NOS DIAS ENSOLARADOS DO ESTIO
QUANDO O SACI PERERE PARA POR ALI
ME VISITANDO NA SOLIDÃO DO REMANSO
ONDE ESPERO ALGUM DESCANSO;
MAS ME TIRARAM DALI.

AGORA SOU APENAS FOLHA SECA
BAILANDO NO VENTO DAQUI P'RA LI.

(sspóvoa)

Sebastião Spínula Póvoa

UMA CANTIGA QUASE METAFÍSICA DO ANJO

SEI QUE EXISTE UM MUNDO QUE É NOSSO
POUCO SE ME DÁ SE ESTAMOS NELE
APESAR DO QUE DIZEM::
VOCE É PARTE CONGENITA DE TUDO O QUE EXISTE!
FALÁCIA E MENTIRAS POIS NÃO SOU PARTE DAS MINAS DE SALOMÃO
OU DO PETRÓLEO DO IRAQUE,
NEM MESMO DA PETROBRÁS
E MUITO MENOS TENHO PARTE N’ALGUM HAREM
DO ÚLTIMO SULTÃO MASSACRADO POR ISRAEL
OU PELOS CRISTÃOS DE QUALQUER NATUREZA

EU PASSO.
O TEMPO NÃO!
ELE VAI.
EU FICO!

DEPOIS SAIREI POR AÍ AO LADO DE BORBOLETAS
ACOMPANHADO POR FALENAS E LIBÉLULAS
QUE TOCARÃO ANAFIL
ENQUANTO DOIS ANJOS TOCARÃO CÍMBALOS
E DOIS SACIS-PERERÊS PERNETAS CARREGARÃO UM ANDOR
ONDE ME SENTAREI COM AS FADINHAS AZUIS
E SEREI LEVADO PELO CAMINHO DE SANTHIAGO
ATÉ A LONGÍNQUA CONSTELAÇÃO DE ANDROMEDA
ONDE UMA RAINHA DOURADA ME DIRÁ:
VOSMECE É BONITO, COMO QUE!
MORREREI DE RISO.
MEUS COMPANHEIROS VOARÃO PARA O INFINITO.
TODOS SORRINDO BAIXINHO

(sspóvoa - archivos)

Sebastião Spínula Póvoa

UM CANTO DO ANJO PARA A DAMA DÉBORA MALUCELLI

ILUSTRE DAMA DA NOBREZA DO PARANÁ.
TENHO SAUDADE DOS JARDINS DAS HORTENCIAS,
TODAS COBERTAS DE RUTILANTE GRINALDA DA GEADA.
TENHO SAUDADES DAS FALAS E DAS CANTIGAS
E ATÉ DO FOGO DE CHÃO PARA ESQUENTAR O CORPO
JÁ TÃO ANDADO E VAZIO.

TENHO SAUDADE, NOBRE DÉBORA MALUCELLI,
DAS IMPOLUTAS ARAUCÁRIAS,
DAMAS SOLENES DOS VALES E OUTEIROS DE VOSSA TERRA.
AGORA TÃO DISTANTE!

CHORE UMA LÁGRIMA POR MIM,
DEBORA MALUCELLI, APENAS UMA.
PARA QUE MAIS,
SE NELA ESTARÃO TODAS AS MINHAS LEMBRANÇAS.

(sspóvoa Cantigas para uma princesa)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTO DO ANJO ANDADEIRO

VI QUATRO FARAÓS NUM BARCO DE JUNCO PROCURANDO RÁ
NAVEGANDO O INFINITO ATRÁS DE ELIAS NO SEU BARCO DE FOGO
BUSCANDO O RUMO DO CÉU NASCIDO DA GÊNESIS DE JEOVAH.
NO OLIMPO,ZEUS E JÚPITER ESPERAM ODIN.

ENQUANTO THOR E VULGANO NÃO PARAM DE MARTELAR,
SORRINDO, ATAUALPA ESPERA O SOL NASCER DO FIM DO MUNDO
PARA O GARROTE VIL DA GARGANTA DESATAR
SENTIR A VIDA NO CORPO E RESPIRAR
AMALDIÇOANDO COLOMBO POR O DEIXAR MATAR.

ATÉ UM PROFETA PALESTINO BUSCA NO CEU A CADEIRA DO SEU PAI
TRONO PROMETIDO PARA NO MUNDO TODO REINAR
COM O TÍTULO QUE LHE DERAM YESUAH NAZARENUS REO JUDEORUM
QUE NÃO ENCONTROU JUSTIÇA ENTRE SUA GENTE, NEM MESMO NO FORUM.
REVOADAS DE DEFUNTAS ALMAS ILUSTRES MAS SEM TANTO BRILHO
RASGAM AS NUVENS PARA A ETERNIDADE ENCONTRAREM.

VI MINHAS FADINHAS, LIBÉLULAS E FALENAS
CARREGANDO CRIANÇAS PEQUENAS
A MARCHA ACOMPANHAR
CANTAVA AS “INCELENCIAS”
PARA AS ALMAS ENCOMENDAR
JÁ QUE DEPOIS DE IR;NINGUÉM RETORNARÁ.

(sspóvoa)

Sebastião Spínula Póvoa

QUINTA CANTIGA DO ANJO ÀS DAMAS IMATERIAIS

O SOL BRILHOU NOVAMENTE
ESTRELAS EXPLODIAM.
O UNIVERSO INIMAGINÁVEL DO TEMPO
VIU DAMAS PASSAREM.
ELE, ESTÁTICO, COM SUAS MÃOS DE NUVENS
AFAGOU OS SEUS CABELOS,MATIZANDO-OS
ENQUANTO PASSAVAM.

EU, TAMBÉM, COM MINHAS MÃOS DE NUVENS
TENTEI TOCÁ-LAS ,DEI LHES OS OMBROS
PREPARANDO-AS PARA O COITO DA NATUREZA
ENQUANTO OFERECIA-LHES DELICADA ÂNFORA
ONDE COLETASSEM AS ÚLTIMAS LÁGRIMAS
DOS SONHOS DO PASSADO.

TENTEI SER O ESPAÇO, DIÁFANO,
QUE LHES EMOLDURARIA O CORPO,
AS FORMAS, AS LEMBRANÇAS
DE TUDO QUE FÔRA ONTEM.

DUAS LIBÉLULAS, MIL BORBOLETAS
E MILHARES DE FADINHAS E FALENAS
BAILAVAM NUMA VARANDA DO TEMPO,
ENQUANTO PASSAROS BRINCAVAM DE AMOR
RASGANDO OS VÉUS DE VIRGINDADES
SOFRIDAS E ARREPENDIDAS.

DEPOIS SE FORAM
NAS CAMADAS TÊNUES DOS VENTOS
ACREDITANDO QUE SERÃO ESTRELAS
DE PUREZA SANTA
NO CÉU DOS HOMENS.

COM AS MINHAS ASAS
QUE TEREI DE VOLTA,
ESTAREI ESPERANDO POR ELAS.

(sspóvoa)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTARES DE UM ANJO ABORRECIDO

COM O SACO OBVIAMENTE CHEIO
ESTOU PARADO NO FIM OU NO COMEÇO DA RUA;
QUE IMPORTA SE A DISTANCIA SERÁ A MESMA?

E QUE IMPORTA SE NA PORTA DE MINHA CASA
TEM UMA ÁRVORE.
ÁRVORE DE JARDIM,
COM GALHOS ABERTOS COMO
PERNAS ABERTAS DE ALGUEM.
ONDE OS PARDAIS E PARDALOCAS
VEEM FAZER FOLIA
SEM CONVITE OU LICENÇA
PARA FORNICAREM

ADIANTA EU FICAR FELIZ OU
INFELIZ OU DESINFELIZ
SE MILHÕES DE BRASILEIROS
DISPUTAM A MEGA SENA
PARA COMPRAREM O PÃO
DE CADA DIA
E OU COISAS QUE SONHAMOS?

ENQUANTO ISSO VEJA A TV,
RADIO, OU JORNAIS ,CONTANDO
QUE ESTÃO JOGANDO BOMBAS NAS
MAGRAS CRIANÇAS PALESTINAS.

E DAÍ;
NÃO PREGARAM
UM PALESTINO TRISTE
NA CRUZ DOS BANDIDOS.

ANO É NOVO. DIZEM.

NOVO DE QUE?
SE TODAS AS COISAS SÃO VELHAS
E SE UM BUMBUM LAVADO E ENXUGADO
COM PANO DURA MAIS QUE UM ANO?

MELHOR FICAR NO INÍCIO
OU NO FIM DA RUA
VENDO O ANO NOVO
CHEGAR E PASSAR.
ENQUANTO PARDAIS
E PARDALOCAS BRINCAM.

(sspóvoa)

Sebastião Spínula Póvoa

MEDITAÇÃO DO ANJO

O grilo tá cansando-cansado.
E foi assim na sua solidão
criquilou, cantou, dançou pulou
e continou criquilando.
sonhando, dançando
batendo.

Mas não furou...!
Falaram as abelhas
mas não ganhou,,,!
Gritaram as falenas
voce nunca ganhou!
Zumbiu um besouro.

Cansando-cansado pegou um jarro
Derramou água na pedra
derramou de novo, noite e dia.

Mas não furou,
mas se cansou.

Procurou outro caminho
que era só dele,
que era só pra ele,
onde ninguém pisaria nele
nem com botinas ,
nem sandálias,
nem borzeguins
nem coturnos.

Lá no alto,mercê da madrugada,
um boêmio deu-lhe um espelho.

E ele criquilou, criquilou,
voando noite a dentro.

(sspóvoa-archivo antigo)

Sebastião Spínula Póvoa

MEDITAÇÃO DO ANJO

Sentir a tristeza é não estar triste,
Quando muito é penalizar-se pelo destino
Como se ele existisse
Como se este não fora justificação.

Eu nunca analiso as coisas
Nem os fatos que acontecem analiso.
Podem eles serem efeitos de mim,
De algum de meus gestos,
De alguma palavra minha.

Não importa, nunca tenho um intento.
Que bom que os outros,também, assim sentissem.
Não haveria ofensas nem elogios
Assim como eu sou, sempre o mesmo,
Nunca o que dizem de mim
Nunca o que pensam o que quero ser.
Não tenho desejos em relação ao tempo
Ao espaço, aos objetos.

Ser triste ou ser alegre é não aceitar a si próprio
É ser como espelho, que reflete e não sente
Os fatos, os gestos, as coisas que o rodeiam.

(sspóvoa-poemas
experimentais)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA DO ANJO PARA UMA RDD

Rosas, margaridas, violetas,
até flor do maracujá.

Dálias, orquídeas,rosas; petúnias; não!

pétreos, multiformes colossos
enfeitam todos os horizontes
possíveis por onde você passou;
solitários; agora ficaram.

D'Vinci pincelava a Gioconda,
Fídias lustrava os joelhos do Pensador
"parla"-pedia, mas o silêncio ouvia
Michelangelo chorando sobre a Pietá.

Valkírias, fadinhas do gelo, deitavam hidromel
nos lábios mortos dos guerreiros
enquanto Odin pedia a Thor com o seu martelo
para cinzelar o que o poeta não conseguiu.

Moça, dizei-me:
donde vem tanta suavidade
que ao cantador embriaga;
mais que a ambrosia
dos gregos deuses
ou a solidão
que nos deixam
as borboletas que se vão.

(sspóvoa-canto)

Sebastião Spínula Póvoa

Mote a um verso da dama Rai Barroserso

"chega a hora que ela reproduz a vida",
e a vida reproduz as flores
onde borboletas e falenas pousam
semeando clasulos e crisálidas
numa mutação constante da vida.
mas as flores murcham, fenecem e morrem
renascendo em frutos e sementes
e, assim, chega a hora
que elas morrem
no ciclo constante
do renascer
como as falenas
e as borboletas.

(sspóvoa-canto)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA DE UM ANJO PARA UMA PRINCESA NUM DOIS DE MARÇO

MARÇO VEM GALOPANDO NO TEMPO
TRAZENDO O RENOVAR DAS COISAS
ANUNCIANDO QUE É CHEGADA A HORA
DE COMEÇAR DE NOVO.

PROMETE FLORES NOVAS
VIÇO NOVO PARA A VIDA
E O REENCONTRO DA NATUREZA
QUE SE CANSOU DE FEVEREIRO.

LONGE, DUAS FLORES ANSEIAM POR NASCER
ANUNCIANDO QUE MARÇO CHEGOU.
OLHAM COM OS OLHOS BONITOS
PERGUNTANDO SE É CHEGADA A HORA.

ESTÃO PRONTAS PARA A VIDA
PARA FORRAREM O LEITO ENORME DA TERRA
QUE, UM DIA, RECEBERÁ A CARICIA DE SUAS PÉTALAS
ENTRELAÇADAS NUM ABRAÇO PERFEITO.

PERGUNTAM SE É CHEGADA A HORA,
A DO REENCONTRO QUE NUNCA TIVERAM.

PARABENS!
DEUS SORRIU NO DIA EM QUE VOSMECE NASCEU.

(sspóvoa-canto para
Tania rutowitsch
-Bósnia Herzegovna)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGAS DO ANJO PARA DAMAS IMATERIAIS-II

SILÊNCIO E SONS
LONGÍNQUOS DE SORRISOS
APAGANDO-SE MAIS UMA NOITE DA ENORME BOCA DO TEMPO,
NA SUA CONSTÂNCIA IMUTÁVEL DE PERMANECER.
MESMO NO DESERTO DA MADRUGADA
AINDA SE VÊ AVES NOCTÍVAGAS BRINCANDO DE NAMORADOS
MULTIPLICANDO-SE POR SABEREM QUE PASSARÃO.
ATÉ A NOITE BEIJA A FÍMBRIA DA MADRUGADA
DESPEDINDO-SE PARA UM NOVO AMANHÃ
DO TEMPO ESTÁTICO;
ENNQUANTO ENORME
BOCEJO SE ALEVANTA
DOS LEITOS DOS CASAIS.
O UNIVERSO ESTÁ EM COITO ,
ACOITADO PELA ESCURIDÃO
SALPICADA DE ESTRELAS.
DAMAS FICAM NO CENTRO DO UNIVERSO
CARCADAS DE VAZIO POR TODOS OS LADOS
MATERIALIZANDO NOS SEUS CORAÇÕES,
CADA VEZ MAIS , A IMAGEM TÃO DISTANTE,
A CADA INSTANTE, PERGUNTANDO:
“ATÉ QUANDO CHEGAREMOS DEPOIS
SE NÃO VIMOS QUE PASSÁVAMOS DESAPERCEBIDAS;
E O TEMPO ESTÁTICO
FICAVA COM AS SUAS PÉTALAS
APÓS COLHER TODAS AS FLORES.
BEIJADAS POR FADINHAS E BORBOLETAS?”

(sspóvoa in cantigas
para uma princesa)

Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA DE RODA DE UM ANJO PARA AS DAMAS E BORBOLETAS

PORQUE NÃO VEM, AMANHÃ,
ABRIR-ME A FLOR ?

PORQUE NÃO VEM,AMANHÃ,
BRINCAR DE CIRANDA?

PORQUE SE VOCE VIR, AMANHÃ,
CANTAREMOS DUAS CANTIGAS DE RODA:
UMA PARA VOCÊ
OUTRA PARA UMA FADINHA

EU MARCAREI O COMPASSO
NUMA HARMONIA INDEFECTÍVEL
QUE SE EXPANDIRÁ DOS CONTORNOS DO SEU CORPO.

"EU VI O SOL LÁ NO ALTO CLARIAR
EU VI MEU BEM DENTRO DO CANAVIAL
NÃO SE ESQUEÇA, MINHA ROSA,
ENTRA DENTRO DESSA RODA
DIGA UM VERSO BEM BONITO
DIGA ADEUS E VÁ S'IMBORA"...

PORÉM SENHORA DAMA DAS FLORES
LEVE-ME COM VOCE PARA A GRANDE
CIRANDA QUE CANTAREMOS
NUMA VARANDA DO CEU.

(sspóvoa fragmentos antigos)

Sebastião Spínula Póvoa

CANÇÃO DE UM ANJO NO DIA DA CRIAÇÃO

Vem, amada de todos os instantes.
Galopemos a garupa do vento
busquemos o mundo que construiremos
num instante de sonho.
Será um mundo indefectível
d’ onde só nós teremos morada
e nossos sonhos tornar-se-ão
em flores azuis teus sorrisos
farão a musica das brisas
e do afago suave de tuas mãos
germinará a essência de todas as coisas.

O sol será raios fugidos dos teus olhos
e dos teus cabelos nascerá a pálida luz da lua.

Nosso mundo será perfeito,
impenetrável. Só nosso.
Caminhemos. A vida dará
momentos de felicidade.

Sonho impossível!

Menina princesa da espera,
esperança da minha procura.
Caminhemos ainda mais
para além da eternidade
onde só os pássaros e os anjos
buscam o repouso dos momentos sublimes da criação.

Do momento de ontem.
Da perspectiva do amanhã.

(sspóvoa)


Sebastião Spínula Póvoa

LAMENTO DE UM ANJO PARA UM PÁSSARO DOENTE

CHEGA UM MOMENTO QUE OS LARGOS CAMINHOS;
JÁ NÃO SÃO TÃO LARGOS
NEM É PRECISO LOBRIGAR O HORIZONTE RUMO AOS CONFINS
QUE SE ESTREITA COMO OS SONHOS.
SOBREVOADOS POR AVES SEM CANTO, SEM NINHOS
JÁ NASCEM FLORES E CARDOS
NEM ROSAS, ORQUÍDEAS, MARGARIDAS NEM JASMINS,
TALVEZ, QUASE TRISTONHOS.

OS CERROS D’ALÉM ESTRADA NÃO SÃO MAIS BUCÓLICOS
SÃO DUROS, FEIOS, TROPEÇOS
PASSOS CANSADOS ROMPEM A JORNADA, PARA ONDE?
SÃO TRÔPEGOS, MEMÓRIAS DOS COMEÇOS
ESTRANHAS SOMBRAS MARCHAM; PASSOS INSÓLITOS
FIGURA ANTIGA EM CADA CURVA SE ESCONDE
SORRÍ COM DESPRESO DO CAMINHEIRO QUE TEM RUMO CERTO
POUCO SE IMPORTA SE VAI PERTO OU LONGE.

PÁSSARO DOENTE?
NÃO !
HOMEM RETRATO.

(sspóvoa)


Sebastião Spínula Póvoa

HISTÓRIA MUITO BREJEIRAQUE UM ANJO CONTOU ACERCA DO MAGO YODA

CERTO DIA UM CAPETA
POREM PERNETA
OLHAVA COM O OLHO TORTO
PELO BURACO DA MAÇANETA
UM MAGO, MAGRO UM ESTETA
E VIA NA SALA UM POETA
QUE ENTRARA DE PENETRA

COM O OLHO TORTO
NA MAÇANETA FURADA
O CAPETA ESPIAVA.
O MAGO MAGRO CANTAVA
O POETA VERSEJAVA
ENQUANTO A VIOLA TOCAVA.

VOLTANDO PRA CASA O CAPETA
APESAR DE SER UM PERNETA
GOSTOU MUITO DO QUE VIA
E PEDIU LICENÇA PRA ENTRAR NA FOLIA.

POREM PERGUNTAVA E INQUIRIA
PORQUE TODO MAGO É MAGRO
E TODO POETA E DA BOEMIA
COISA QUE NA SUA CASA
NINGUÉM JAMAIS FAZIA
POIS TODOS PISAVAM EM BRASAS.

E A TAL LICENÇA GANHOU
DE SER CAPETA DEIXOU
VIOLA NO SACO EM MEIO TOM
E FICOU COMO ALUNO DO VIOLEIRO 1000TON.

(sspóvoa
Homenagem ao amigo Yoda)

Sebastião Spínula Póvoa

AS DAMAS E O ANJO

O SOL BRILHOU NOVAMENTE E ESTRELAS EXPLODIAM.
O UNIVERSO INIMAGINÁVEL DO TEMPO
VIU MINHAS DAMAS PASSAREM.
ELE, ESTÁTICO, COM SUAS MÃOS DE NUVENS
AFAGOU OS SEUS CABELOS,MATIZANDO-OS
DE BRANCO ENQUANTO PASSAVAM.

EU, TAMBÉM, TENTEI TOCÁ-LAS ,
OFERECI-LHES OS OMBROS DE TANTA ESPERA
PREPARANDO-AS PARA O GRANDE COITO DA NATUREZA
ENQUANTO OFERECIA-LHES DELICADA ÂNFORA
PARA QUE COLETASSEM AS ÚLTIMAS LÁGRIMAS
VERTIDAS PELOS SONHOS DO PASSADO.

TENTEI SER O ESPAÇO, DIÁFANO,
QUE LHES EMOLDURARIA O CORPO,
AS FORMAS, AS LEMBRANÇAS
DE TUDO QUE FÔRA ONTEM.
DUAS LIBÉLULAS, MIL BORBOLETAS
E MILHARES DE FADINHAS E FALENAS
BAILAVAM NUMA VARANDA DO TEMPO,
ENQUANTO AVES NOTURNAS MORRIAM DE AMOR
RASGANDO OS VÉUS DE VIRGINDADES
SOFRIDAS E ARREPENDIDAS.
DEPOIS SE FORAM
NAS CAMADAS TÊNUES DOS VENTOS
ACREDITANDO QUE SERÃO ESTRELAS
DE PUREZA SANTA
NO CÉU DOS HOMENS.

COM MINHAS ASAS QUE TEREI DE VOLTA,
ESTAREI ESPERANDO POR ELAS.


Sebastião Spínula Póvoa

CANTIGA DE UM ANJO PARA NINAR A BEM AMADA

Passarei na porta da casa de vósmece
montado num cavalo branco
de plumas suaves como flocos de algodão,
asas ligeiras como sopro do vento.

Vosmece montará na garupa
e sairemos numa estrada de nuvens,
rumo ao caminho dos bem-amados.

galope...galope...galope............

o sol espalhará raios dourados,
refletidos nos cabelos loiros da menina-moça
que estará sorrindo
para aquela manhã primeira.

galope...galope...galope.......

Vosmece ,bonita como que!
estará misturada com a brisa suave
e, eu, serei cavaleiro muito andante
empunhando flores para enfeitar
a fronte de vosmece.

Serão brancas, algumas azuis
muitas perfumosas
como as que nasceram no
jardim do Edem

Iremos por aí,
num cavalo branco...........

galope....galope......galope.........

(sspóvoa fragmentos)

Publicado no Recanto das Letras em 20/09/2009)

Sebastião Spínula póvoa

QUASE UM RECADO PARA FLOR DE LOTUS AZUL

Falha-me,memória, esquecida, tanto
mas, não fôra Schopenhauer
que dissera:" Eu existo,portanto
o mundo existe"?

Então Flor de Lotus Azul
vai e dize para Débora Malucelli
que ela existe na grandeza da
luz e da paz que irradia.

Fala, também, Flor de Lotus Azul,
que ela é guerreira, forjada no cadinho
das fadas, com a têmpera dos deuses antigos,
Forte como que!
Bonita como que!

Não esqueça, entretanto, de dizer-lhe
que seja como os pássaros, que só
cantam quando têm vontade,
até porque cantar faz bem.

Dize, ainda, Flor de Lotus Azul,
os Devas e os Elementais estão
brincando de ciranda numa varanda do céu,
frontes cingidas com flores multicores
que ela tem semeado vida a fora,
com auréolas azuis das luzes
dos seus olhos de menina -moça.

Ao final, conta-lhe, que ela não é suposição,
que existe, que é parte congênita
da criação.Pede, então, que retorne
para a nossa caminhada, rumo ao amanhã.


(spovoa-verso p Débora)

Sebastião Spínula Póvoa

QUANDO UM ANJO VOLTA PARA CASA

Deixa a cabeça nos joelhos
e gargalhemos nossa separação.

Ela e fria e tola como toda separação
porque se infiltra aos poucos
numa corajosa covardia

Não mais teremos os risos forçados
não mais teremos nada...

Só mesmo resta
dobrar a cabeça nos joelhos
e gargalharmos a nossa separação

(sspóvoa fragmentos,
Poemas Experimentais)

Sebastião Spínula Póvoa

VOSMECÊ MULHER E FLOR

NA FALA DOS ANJOS

FLOR ATÉ NO NOME!

NEM DÁLIA, PETÚNIA OU ORQUÍDEA

PORÉM FLOR.

VOSMECÊ POR QUE É MULHER.
FLOR.

BELA
FALENA DEIXANDO A CRISÁLIDA,
IRMÃ DAS FADAS E DAS BORBOLETAS.

FADINHA.
BONITA COMO QUE!


Sebastião Spínula Póvoa

TALVEZ CANTAR FAZ BEM

Se fosse dado cantar em teus ouvidos
todos melhores sonhos que bem quiseras
saídos de outros lábios; os teus mais queridos
para parecer ter novas primaveras.

Fosse dado ter seus sonhos recolhidos,
teceria enlevos,suaves quimeras;
a renascer nos teus íntimos sentidos
muitas novas sensações que bem quiseras.

Mas, o pássaro na gaiola canta apenas
já não tem vôos, nem liberdade tem;
canta, tão só, talvez porque cantar faz bem.

Assim tão simples e nestas puras cenas
eu te dedico estas linhas amenas
revelando- te meu inocente querer bem.

Sebastião Spínula Póvoa

QUASE UMA CANTIGA TRISTE PARA TEREZA E O CAMBARÁ DOS GIRASSÓIS

O patrão Buenacho largou raios de lua,
Lá,duma varanda da estância do céu,
Que desceu faceiro,
Peleando para furar a geada.
Que buscava se esconder no sorriso dos girassóis.

Matinada fria de campanha,
Nestas terras calientes
Dos Tocantins, donde os gaudérios,
Mui tristes e, quando borrachos,
Cantam as milongas para as prendas distantes.

Galopeando na garupa da madrugada,
Ela chegou mui linda, faceira.
Bonita como que !
Trazia furor dos maragatos nos olhos,
Vermelho dos colorados nos lábios alegres,
Ligeira como o minuano correndo nas vastidões dos pampas.

Os pesitos nem machucavam as flores,
E os girassóis morriam de amor.
Muito de repente o sol, furou as grimpas da serra,
De ciúme, secou a geada,
Alumiou os girassóis,
Abrindo o descampado,
Donde , se viu, mui solito,
Qual cambará perdido no caminho da saudade.


Depois ela voou nas camadas tênues dos ventos.


Sebastião Spínula Póvoa

CANTO PARA UM PAI

Perdida estão as flores para teus olhos meu filho.
Na amargura que nasceste em minha alma
Reviveço-te todo.
Nunca será o eterno abandonado.


Há motivos aplausíveis à loucura
e desatinos que estremecem o espírito.
Há desolações que afugentam a solidariedade
e paixões que perturbam a mente.
Mas, a beleza da vida
A fôrça da vida
cicatriza as derrotas do homem
e sempre fornece novos motivos.
_ Eras jovem meu filho.
Será que nunca reparaste
em meus cabelos embranquecidos?
Meu batalhar diário à tua vida?
A ternura que existia em minhas rugas
quando mostrava-te os maus caminhos?


Meu filho neste corpo hirto;
levas para o túmulo
mais que o teu desatino,
Levas a vitória de um pai
que pensava ter vencido.

Sebastião Spínula Póvoa