domingo, 20 de março de 2011

CANTIGA PARA OS ANJOS QUE JÁ SE FORAM



Para que romper a aurora minha donzela
se, no meu dia chegado,
rosto algum eu verei
de dentro do meu mausoléu

Para que saber que o dia
amanhece minha dama
se minhas noites são calmas
e amortecem minhas tragédias,
na voz de minhas últimas boemias
e das mulheres desregradas
à procura de vida
nos cabarés meio inóspitos.

Para que romper a aurora minha donzela
acompanhando esse sol antigo
se na verdade prazer nenhum me propões,
estes só existem dentro de mim mesmo.
Prefiro, pois, acompanhar a noite
aos sons dos copos
e das raparigas sem destino
que nada me prometem
e tudo me tiram.

Prefiro acompanhar a noite minha dama
apenas com a leve percepção auditiva
fugindo nas vozes dos galos prematuros
e no uivar dos cães famintos.

Para que esperar a aurora minha donzela
Se o dia com certeza absoluta, virá sobre mim,
e maltratara os meus olhos;
e apagara minha alegria?

(sspóvoa Poemas experimentais)

Sebastião Spínula Póvoa

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